Pôr do Sol, Lua Nova e querelas
Pedro
Paulo M. Ribeiro
Neste 04 de agosto, carregado de fluidos obscuros sobre a nação
brasileira onde os servidores mais sofridos do país, os do judiciário,
batem pé na proposta (indecente) de garantirem para si regalias
que nem o Presidente da República tem, deixo-me extasiar ante a
visão exuberante de um Pôr do Sol nestas terras benfazejas.
Resolvi não me pôr a par de nenhuma notícia saída
da televisão; desliguei-a e pus minha cadeira de macarrão
na frente de casa, na direção do Horizonte, azul-enegrecido
em sua parte superior e alaranjado esmaecido na parte inferior, onde uma
Lua Nova risonha parece adivinhar que sua permanência nos altos
das cabeças humanas (e também não-humanas, afinal
todos são frutos de um mesmo semeador - até os de toga,
humanos e não-humanos) espargirá algum resquício
de pó lunar e fará os humanos renitentes verem que suas
avaras reivindicações só aumentarão o fosso
que os separa dos mortais que soçobram nas favelas, nas periferias,
nas prisões superlotadas onde indivíduos sobrevivem em condições
desumanas e entre os quais os de toga juraram defender como um de seus
baluartes na luta por justiça e cidadania.
É esta a mesma Lua que me olha do céu como a me perguntar
por onde anda o Respeito entre os seres humanos e entre estes e as instituições.
Respondo-lhe que tenho insistentemente procurado tal atributo, haja vista
que as transformações por quais o País passou nos
últimos seis meses o expulsaram, conforme sussurram as Vestais
dos Privilégios Constituídos, para debaixo do tapete do
porão da casa do Esquecimento. E acredito que lá tem ficado
escondido como um animalzinho de estimação amedrontado ou
um brinquedo velho e obsoleto.
No cipoal de chororôs das regalias se encontram tantas e distintas
vozes, ò Amiga Lua, que fica difícil precisar o que tanto
reclamam, como se valesse a seguinte máxima: "Se é
para reclamar, então vamos fazer coro". De repente, todos
os reclamantes se encontram unidos em sua intolerância, não
importando se com isso prejudicam as engrenagens deste pedaço de
chão abençoado por Deus e o fazem refém de uma situação
sui generis onde o Governante foi escolhido pela mesma maioria que agora,
insatisfeita e intolerante, ruge nas ruas, levanta piquete, invade propriedades,
vitupera palavras de ordem, investe contra instituições,
autoridades, seus semelhantes e contra tudo que representa uma ameaça
aos seus interesses.
E aí, amiga Lua, só me resta registrar minha inutilidade
como intérprete de tão surreal situação e
minha ignorância acerca do paradeiro do Respeito, pois eis que este
é um terreno caudaloso onde jazem um enraizado de algaravias que
não nos diz muito respeito já que eu pelo meu lado concordo,
aqui e agora e para todo o sempre, com estes ares de mudança. Afinal,
não era isso o que tanto queriam? Bom, aí vieram as mudanças,
mas de repente viram que não era bem isso que estavam esperando.
Ah, bom!!!... E a você mesmo não deve causar urticárias,
uma vez que sua existência aí, longe das injúrias
humanas, só reforça sua importância como objeto de
Contemplação, Regozijo e Esperança de que encontremos
o Caminho do Entendimento e da Boa Vivência, aqui neste poço
de lágrimas, motivo pelo qual, suspeito, ter nosso planeta mais
águas do que propriamente terra.
Macapá-AP, 04/08/03.
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