A Prevenção da Dengue no Amapá
O médico Drauzio Varella apresentou no Fantástico uma
reportagem que bem poderia ter sido feita no Amapá. Falou sobre
a dengue e suas mazelas. Mas, o que me chamou a atenção
na reportagem foi o trabalho de controle que vem sendo feito em Recife
através de satélite. O Amapá tem esse recurso
a sua disposição e não usa.
Sara Nery, amapaense, engenheira, com mestrado em recursos hídricos
e saúde pela Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz,
já gastou muita saliva tentando convencer os tomadores de decisão
sobre a eficácia e a eficiência do uso de ferramentas
de geoprocessamento para o controle da dengue no Amapá e “nada”.
Sara elaborou o Projeto “Controle e Prevenção
da Dengue nos Municípios do Estado do Amapá com a utilização
das ferramentas de geoprocessamento” e percorreu órgãos
públicos do setor de saúde e tudo que conseguiu foi
alguns bocejos e um “muito interessante”.
Para o setor da saúde essa tecnologia é essencial,
visto que propicia a análise da doença correlacionando-a
as condicionantes socioeconômicas e ambientais da área
geográfica estudada. O fato de poder utilizar mapas facilita
o planejamento das ações visto que auxilia na identificação
de áreas expostas a riscos e nas condições de
saúde da população.
A tecnologia consiste em monitorar a proliferação do
mosquito através de armadilhas e acompanhamento informatizado
dos locais de maior incidência. Essas informações
são inseridas numa base cartográfica e um banco de dados
é gerado, mostrando para as instituições públicas
do setor de saúde onde devem concentrar as ações
de controle.
A vantagem do uso da tecnologia está na sua capacidade preventiva,
permitindo que o poder público chegue antes da dengue. O fumacê
que é usado atualmente segue como critério técnico
de atuação o registro de locais com maior incidência
de casos de dengue. Ou seja, eu tenho que virar estatística
da doença ou mesmo do IML, para aí os órgãos
públicos acionarem o fumacê.
Leia o que diz o Ministério da Saúde sobre o fumacê:
“Os inseticidas são líquidos espalhados pelas
máquinas de nebulização, que matam os insetos
adultos enquanto estão voando, pela manhã e à
tarde, porque o Aedes tem hábitos diurnos. O fumacê não
é aplicado indiscriminadamente, sendo utilizado somente quando
existe a transmissão da doença em surtos ou epidemias.
Desse modo, a nebulização pode ser considerada um recurso
extremo, porque é utilizada num momento de alta transmissão,
quando as ações preventivas de combate à dengue
falharam ou não foram adotadas”.
Não desprezo nenhuma forma de conhecimento e sei que o saber
popular é tão valioso quanto o que se aprende nas universidades.
O problema é que se confunde saber popular com teimosia popular
e aí se desloca o conhecimento científico para um campo
virtual, desprestigiado e marginalizado pelas relações
de confraria que tomaram conta das instituições públicas
desse país.
Este ano de 2007 a Prefeitura de Macapá decretou estado de
emergência em função dos 2.400 casos da doença
confirmados, com três mortes por dengue hemorrágica.
Quantos serão em 2008, 2009...?
Quanto custa operacionalizar o projeto da Sara? Custa bom senso
e boa vontade, incluindo aí um custo de amortização
de difícil valoração: a vida humana.
Marco Antonio Chagas, doutorando em Desenvolvimento Sustentável
do Trópico Úmido pelo NAEA/UFPA
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