Skinheads espancam emo em Praça de Tatuapé-SP
Por Ademir Pedrosa
Leitor, escuta este relato: o bêbado já meio alterado
embarca no ônibus. O embarque é sempre dificultoso para
portador de deficiência, para criança, para idoso, e,
naturalmente, para bêbado. Logo de cara ele faz um escândalo
com o cobrador que não quer devolver-lhe o troco direito. Já
vi um padre sacudir o pescoço do cobrador por causa do troco,
ou seja, todo o mundo, indistintamente, briga com o cobrador. E no
labirinto do corredor, ele pisa o pé de uma moça e cai
sobre a outra. Eu mesmo já caí - juro, bonzinho
da silva - no colo de uma estudante, era tão confortável
seu regaço que lhe propus desembarcar do ônibus de mãos
dadas. Ela não aceitou porque estava de casamento marcado.
Depois o bêbado encontra um armário, ou melhor, um moço
do tamanho de um armário que portava uma mala 007, e que atravancava
o seu caminho no corredor do ônibus. O bêbado esbraveja
pedindo passagem; e o bossal, impassível como uma toupeira,
finge que não é com ele. O bêbado, cambaleante,
vai furando caminho entre as pessoas, até ser barrado pelo
o truculento. E por não agüentar mais o bafo de onça,
ele perde então a sua santa paciência, e desfere um soco
na fuça do bebum, que o joga no chão, nocauteado.
Agora, o epílogo que é de matar. Depois de o truculento
espancar o bêbado indefeso, e jogá-lo para fora do ônibus,
todos os passageiros aplaudiram, entusiasmados. Não é
lírico? Achei esse episódio tão 10, tão
kbça, tão d+ que tive uma ereção incontinênti...
Quem acha que cós de bêbado não tem dono, e que
bêbado merece apanhar, são pessoas do mesmo jaez daquelas
que mataram o índio pataxó, por pensar que fosse um
mendigo; são as mesmas que espancaram a empregada doméstica,
por pensar que fosse uma prostituta. Agora eu pergunto: mendigo tem
que morrer porque é indigente; e prostituta tem que apanhar
porque é puta?
O episódio que vai acima não difere do que aconteceu
em Tatuapé, em São Paulo. A banalização
da violência é assustador. Esses grupos de neonazista,
conhecidos como skinheads, estão se proliferando pelo mundo
e aterrorizando cidadãos pacatos que não representam
a menor ameaça à sociedade, como nesse caso do jovem
emo. De um lado um grupo de pessoas que resolvem usar roupas e pinturas
insignes, normalmente de aparência frágil e inofensiva;
do outro lado os demônios de caras limpas, caçadores
de negros, homossexuais, nordestinos e emos; os skinheads são
a Ku Klux Klan sem capuz que usam da mesma violência e intimidação
da antiga sociedade racista americana. São assassinos dispostos
a impingir o medo àqueles que abrigam o que eles consideram
a escória social como os nordestinos, negros, homossexuais
e, agora, emos. A polícia tem a obrigação de
prender e a Justiça o dever de condenar os seis elementos que
espancaram o jovem Juan. Quando eles estiverem no xilindró,
lá vão encontrar os negros e os nordestinos, e aí
eu quero ver quem é mesmo a escória do mundo.
Observe, leitor, o paradoxo desse episódio; a namorada de
um deles, do Gabriel que foi apanhado pelo polícia, disse em
depoimento prestado no 30º DP (Tatuapé), que Juan foi
espancado sem motivo. Já a mãe da vítima declarou
que “Quem sabe assim ele (Juan) esqueça essa moda (emo)
e corra menos riscos”. Tal declaração é
como reconhecer que seu filho merecia a surra que levou por ser um
emo. Santo Deus! A Débora Almeida Matias Gomes, mãe
de Juan Guilherme Gomes, de 17 anos, é da igualha dos passageiros
do ônibus que aplaudiram e riram do espancamento do bêbado.
A banalização da violência chega a limites insuportáveis,
o mundo vai implodir se o ser humano não se contiver com sua
ira... Cabum!
[email protected] - (96)8127 3438