Flexissegurança
A Invasão Chinesa
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Já em Janeiro escrevi sobre "Flexissegurança".
O palavrão voltou e anda por aí na boca e na caneta de
muita gente. Palavrão raro, de difícil articulação,
difícil de compreender.
O palavrão aparece-nos estampado com muitas grafias, umas vezes
"flexigurança ", outras vezes "flexisegurança",
já o vi "flexi-gurança".
Prefiro como vem em título. É assim que está recomendado
pelas normas do Português, consulte-se o site Ciberdúvidas.
Assim é mais claro, transmite facilmente os conteúdos
em causa.
"Flexissegurança" define um sistema social que se
iniciou na Dinamarca, e que se aplica em países do norte da Europa.
Esse sistema garante um equilíbrio entre interesses de quem trabalha
e de quem dá trabalho, trabalhadores e empresários. Significa
rigorosamente "flexibilidade" no trabalho e "segurança"
dos trabalhadores. Assim mesmo. Quem trabalha tem de ser respeitado
e os seus direitos garantidos. E tem de trabalhar, tem de produzir.
Foi assim que na Dinamarca se procurou fazer um equilíbrio entre
interesses em plena época de globalização, época
de neoliberalismo selvagem, ganancioso, assambarcador das riquezas produzidas,
alcandorado nos elogios à concorrência, mesmo que desleal,
à competitividade, mesmo que com muita protecção,
às competências, mesmo que os bons e bem pagos empregos
sejam fabricados à medida dos candidatos.
Na Dinamarca, a remuneração salarial média ultrapassa
os 2.000 euros/mês. Um trabalhador que procura trabalho, ao fim
de 10 dias tem trabalho. Durante o tempo desempregado, tem subsídio
de 90% do ordenado. Há garantias de trabalho e as mudanças
são em geral dentro da mesma empresa, mudando de serviço,
com vantagens garantidas.
A Segurança Social na Dinamarca não tem nada que se possa
comparar com a aplicada em Portugal.
Na Dinamarca há uma cultura que leva as pessoas a sentirem-se
dignificadas com o trabalho. E os empresários dinamarqueses respeitam
os trabalhadores e têm uma tradição de cultura empresarial
que não se vê em Portugal. Os países nórdicos
são países de economia próspera, os trabalhadores
ganham bem e são respeitados. Há uma cultura de trabalho
e os empresários não se assumem como donos dos trabalhadores.
São respeitadores dos direitos. São empresários
que não se dão ares de importância e de inutilidade
vaidosas. Viajam e circulam em transportes colectivos, encontram-se
ao lado dos trabalhadores, também eles a trabalhar, sem aqueles
tiques de quem está ali para mandar. Na Dinamarca, as leis de
trabalho não são de conteúdo tão rigoroso
e minucioso como as constantes no Código de Trabalho em vigor
em Portugal. Também as diferenças salariais não
são as que por cá se aplicam. Portugal é o país
onde o fosso entre salários altos e baixos estende-se por números
escandalosos. Os administradores portugueses são dos mais bem
pagos da Europa, e os trabalhadores portugueses são os mais mal
pagos da Europa.
A "flexissegurança" que nos querem dar tem muita flexibilidade
sem pitada de segurança. Pretende-se instituir atirar pessoas
para o desemprego com toda a facilidade.
A "flexissegurança" que nos querem dar significa facilidades
nos despedimentos, trabalho precário, trabalhar até às
portas dos cemitérios, com reformas em idades de velhice e reformas
que não sobram às despesas das farmácias.
Significa trabalho infantil, salários em atraso, desemprego
por deslocalização de empresas.
Tem significado ver e ouvir políticos perorarem sobre "flexissegurança"
lá por longe, da Índia e da China, longe do povo que os
elegeu, querendo dar a entender que os salários em Portugal devem
ser como os aplicados na China, nada parecido com o que se faz na Dinamarca,
país donde importaram a palavra. Trabalhar como na China. Segurança
chinesa.
O modelo que nos querem aplicar cada vez mais escorrega para um neoliberalismo
selvagem, onde o lucro é lei suprema.
No Expresso lê-se que "Se fosse difícil despedir,
não tínhamos quase 500 mil desempregados", Bagão
Félix, 23 de Junho 2006.
E ainda sobre a "flexissegurança": "Estas propostas
não garantem por si só maior crescimento económico
- mas asseguram de certeza maior precariedade nos vínculos
laborais e maior instabilidade familiar" Nicolau Santos, Expresso,
30-06-07.
"A Flexissegurança fala-nos do modelo nórdico, Suécia,
Noruega ou Dinamarca, mas indica-nos o caminho da China".
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