Por que os políticos corruptos japoneses (ainda) suicidam-se?
Revista Veja, edição de 19/9/2007, pág. 102: “Renunciou:
o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. Seu mandato de apenas
um ano foi marcado por escândalos de corrupção que
levaram um ministro ao suicídio e outros três à
renúncia (...)” (grifei).
Sempre tive curiosidade (e dificuldade, admito) em entender o fenômeno
acima referido. Não estou aqui, advirto, para discorrer sobre
o suicídio em si, como ato humano, sempre digno das mais elevadas
preocupações religiosas, filosóficas e psicológicas.
Pretendo, simplesmente, especular.
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
quando pegos em plena rapinagem, não podem safar-se alegando:
“estas acusações são fruto da disputa político-partidária!”
ou “antes de uma sentença penal condenatória transitada
em julgado não se pode culpar ninguém por corrupção!”
ou “não somos corruptos, mas sim, aloprados!” ou
“em nome da governabilidade, não podemos ser punidos!”?
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
no xintoísmo (a religião nacional do Japão, anterior
ao budismo, segundo o Aurélio), não existe nada parecido
com a parábola do bom ladrão (Lucas 23: 39-43)?
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
não dá para culpar a imprensa, de campanha sistemática
ou de conspiração contra as instituições
democráticas (sic!)?
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
não dá para simplesmente renunciar aos cargos públicos,
e depois voltar, “pelos braços do povo”, qual Fênix
(a ave mitológica é quem acaba “pagando o pato”),
ao cenário da política?
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
num país tão evoluído, não existe o foro
privilegiado (ou foro por prerrogativa de função, para
os doutos!), o qual proporciona aquela “agradável e refrescante”
sensação de impunidade (e uma “mãozinha”
para a prescrição penal)?
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
num país conhecido por suas criações tecnológicas,
ainda não foi inventado o “jeitinho japonês”?
Por que os políticos corruptos japoneses suicidam-se? Lá,
a despeito da globalização cultural, ainda não
se tem o “jogo de cintura”, e, por não saberem sambar,
os políticos corruptos japoneses “dançam”?
Seriam os políticos corruptos japoneses “neo-samurais”
apegados, ainda, à tradicional prática do haraquiri? Ou,
simplesmente, otários românticos?
Assim, termino como comecei: curioso (e sem entender) por fenômeno
tão interessante, de um povo não menos fascinante!
Antônio Marcos Serravalle Santos ([email protected]),
que, por óbvio, não é japonês.