As demissões de Waldez
Camilo Capiberibe
O governador Waldez Góes mostrou sua verdadeira face ao permitir
a demissão de vinte e sete merendeiras que prestavam serviços
nos centros desportivos mantidos pelo governo do estado. Em conversa
mantida com algumas das demitidas fiquei sabendo que várias delas
trabalhavam nos centros desportivos desde o governo Aníbal Barcellos
e já teriam passado, inclusive por vários regimes de contratação,
passando desde empresas terceirizadas, contrato administrativo até
o caixa-escolar. Sobreviveram quatro governos na função
de alimentar crianças que praticavam esporte nos centros desportivos.
Contudo, tão grave quanto a demissão das senhoras, a maioria
delas de idade avançada, é a interrupção
no fornecimento de merenda às crianças e jovens que treinam
nestes centros.
Quando fiquei sabendo das demissões ingressei com requerimentos
pedindo informações detalhadas à SEDEL, Secretaria
do Desporto e Lazer. É evidente que eu já sabia, pois
as merendeiras relataram o fato, mas eu queria saber a versão
do governo do estado. Uma versão oficial que justificasse a demissão
de 27 mulheres; de vinte e sete seres humanos que recebem os mais baixos
salários pagos na função pública, logo,
não custam tão caro ao Erário. Perguntei, pois
o governo poderia encontrar uma justificativa plausível para
as demissões.
Pouco mais de um mês depois, o Sr. Hildo Fonseca, que foi deputado
estadual por três mandatos e no mandato era um crítico
feroz e implacável se saiu com uma desculpa de amarelão,
que, para quem se esqueceu, é comer barro. O secretário
alegou ter demitido as serventuárias por falta de recursos; por
falta de dinheiro e confirmou candidamente, como se não fosse
nada de importante, que a interrupção no fornecimento
da merenda escolar para as crianças dos centros esportivos se
deu no dia 27 de junho de 2007. Segundo o Sr. Hildo Fonseca, não
tem dinheiro para pagar pessoal e não tem dinheiro para fornecer
merenda escolar, compreenda-se, comida, para crianças em sua
maioria carentes. Vejamos bem... O orçamento de 2008 bate a casa
dos dois bilhões de reais e o Secretário vem dizer que
não tem dinheiro? Mas o que é ruim sempre pode piorar.
As merendeiras quando me encontraram em Agosto disseram que o pior
de tudo era que não havia sequer previsão para o pagamento
das indenizações trabalhistas e que elas teriam sido aconselhadas
a ingressarem na justiça. Quanto a isso, que também foi
motivo de questionamento, o Secretário Hildo Fonseca respondeu
que ele estaria “articulando” para que o pagamento fosse
feito. Me parece que há uma grande confusão quanto ao
que está em jogo por aqui. Indenização trabalhista
é direito e não favor, as demissões já ocorreram
há meses e o Secretário alega que está articulando?
Agora quanto a questão da justiça, se houve emsmo este
aconselhamento, aí o problema não é mais de falta
de sensibilidade mas de falta de caráter.
Tornei a questão da demissão das merendeiras pública
diversas vezes seja em pronunciamentos, seja em matérias no meu
informativo pois eu acreditava que tudo não passava de um grande
equívoco e provavelmente as demissões teriam passado sem
que o governador Waldez Góes soubesse. Depois de tanto tempo
e de todo o barulho, não posso mais acreditar que ele não
saiba. O governador Waldez Góes, que nomeou mais de sessenta
parentes para cargos de confiança, botou vinte e sete merendeiras
no olho da rua sem consideração e nem indenização.
Se até agora ele não fez nada para reverter o equívoco
do secretário da SEDEL é simplesmente porque não
quer, porque não se importa com o emprego que não seja
o dos seus parentes.
Quanto à desculpa dada por Hildo Fonseca ela é esfarrapada
e descabida, pois o mesmo governo que não tem dinheiro para manter
as merendeiras e nem a merenda escolar repassou mais de meio milhão
de reais para um desconhecido Renovação Esporte Clube.
541 mil reais foram repassados. E a pergunta que não quer calar
é para quê tanto dinheiro? Outra pergunta que deve ser
respondida pelo Sr. Waldez Góes, governador eleito e no exercício
do seu segundo mandato é: porque tem dinheiro para o Renovação
mas não tem dinheiro para pagar salários, distribuir merenda
e nem pagar indenizações trabalhistas?. Como justificar
isso?