Contagem X Recenseamento X Domicílios
Raul Tabajara (*)
A contagem da população do IBGE tem como função
básica levantar a população residente nos municípios
brasileiros e conseqüentemente nos Estado e País. As variáveis
levantadas nesse ano foram o sexo do morador, a relação
do mesmo com a pessoa de referência do domicílio (se é
cônjuge, filho, pai, mãe, neto, irmão, outro parente,
agregado, empregada doméstica, parente da empregada e convivente),
mês e ano de nascimento do morador, sua idade em 31/03/2007 e
em que Estado e município morava em 31/03/2000. Também
é levantada se o cônjuge do responsável pelo domicílio
é do mesmo sexo ou de sexo diferente da pessoa responsável.
O Recenseamento, além de realizar a contagem da população,
investiga inúmeras variáveis que vão desde os aspectos
demográficos, educacionais a características dos domicílios,
família, casamento, separação judicial e divórcios,
criança, adolescente e jovens, idosos, cor, mulher, trabalho,
renda, nupcialidade e fecundidade, e que são coletados nos recenseamentos
gerais que ocorre de dez em dez anos. Como essas variáveis não
se alteram profundamente em poucos anos, com esses dados em mãos
podemos utiliza-los em cruzamentos para obtermos indicadores úteis
para planejamento de atividades governamentais e privadas.
Para realização de uma boa pesquisa demográfica
e social, se faz necessário uma data de referência para
que as informações sejam obtidas. O que se quer é
retratar como numa fotografia a realidade daquele momento no País,
Estado, Município e Distrito podendo chegar até bairro.
O ideal seria se todo mundo parasse e ficasse a espera do pesquisador
para dar as informações sobre seu trabalho, estudo, fecundidade,
casamento e demais variáveis sempre se referindo a data de referência.
Como no nosso mundo material nada ocorre próximo à perfeição
temos de recorrer a artifícios como aplicar os questionários
à partida da data de referência. Na contagem de 2007 a
data de referência foi o dia 01 de abril. Isso implica que as
pessoas que nasceram antes foram levantadas as informações,
pois nesse dia as mesmas estavam vivas, assim como as pessoas que faleceram
após essa data também entraram na contagem pelo mesmo
motivo. As pessoas falecidas antes da data e as nascidas após
não entraram na contagem.
Quando nos referirmos que a população do Amapá
na contagem ocorrida em 2007, foi de 587.153 habitantes, temos de cita
que a mesma tem como data de referência o dia 01 de abril. Nessa
data também foi identificada que havia cerca de 142 mil domicílios
no Estado, sendo que 121 mil estavam ocupados, o que proporciona uma
média de 4,6 pessoas por domicílios.
Temos ouvido na imprensa em geral que um dos maiores problemas do Estado
é o grande déficit de moradia. Ao observarmos a taxa de
4,6 pessoas à luz de uma analise superficial parece-nos que essa
preocupação parece um pouco alarmista, tendo em vista
que menos de cinco pessoas por domicílios é completamente
normal na realidade amapaense. Lembrando que a media nacional está
abaixo de 3,4 pessoas /domicilio.
Porém, quando analisamos mais profundamente as informações
que nos são ofertadas pelo Recenseamento Geral de 2000 e pela
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD, temos
a nossa frente um quadro que merece uma atenção especial
por parte das autoridades que determinam e planejam a política
habitacional.
Aproximadamente 30% dos domicílios do Amapá possuem apenas
um cômodo e esses domicílios apresentam o numero de moradores
acima da média do Estado, girando em torno de 5,5 pessoas / domicílios.
Praticamente a metade dos domicílios do Estado não possuem
banheiro interno e a água consumida têm origem em poço
amazônico, isso significa que consomem água não
tratada.
Em Macapá, observamos que nos bairros mais antigos como trem,
laguinho, central, pacoval, Jesus de Nazaré, Santa Rita, cerca
de 50% dos domicílios utilizam água de poço. Praticamente
90 % dos domicílios desses bairros não possuem sistema
de esgoto, e seu esgotamento sanitário é realizado em
fossa rudimentar, isto é, um buraco no quintal coberto com uma
laje de concreto. Não é levada em conta a instalação
interna do domicilio que pode ter lajota de primeira qualidade e vaso
de príncipe, porem, é considerada fossa rudimentar porque
o material do esgotamento é devolvido ao ambiente sem nenhum
tratamento.
Esses mesmo domicílios captam água para consumo de seu
poço amazônico ou artesiano, que fica no mesmo quintal
onde se encontra a fossa. Nos bairros mais novos como marabaixo, renascer
e parte do jardim, devido à expansão imobiliária
dos últimos anos, os quintais estão bem menores. E devido
ao não acompanhamento do crescimento da rede de distribuição
de água no mesmo patamar que o número de domicílios,
esses foram obrigados a cavarem poços para seu abastecimento,
poços esse que variam entre 12 a 18 metros de profundidade. Os
mesmo domicílios ainda confeccionaram uma fossa para seu esgotamento
sanitário que gira em torno de 2 metros. Com o tempo os iremos
ter com certeza infiltração da parte liquida da fossa
ao lençol freático, que é o mesmo para todos os
domicílios.
Um levantamento nas unidades de Saúde dos bairros e em hospitais
verificará que a principal causa de problemas em crianças
poderia ser evitada por ingestão de água tratada. Com
isso, mostra-se que quem mais sofre com o problema são sempre
as crianças e mais ainda aquelas ligadas às famílias
mais carentes.
Essas informações nos mostram que a melhoria dos domicílios
já implantada é importante e necessária para a
melhoria da qualidade de vida da população, e esses dados
nos mostram ainda a necessidade de uma política publica firme
nessa direção.
(*) Tecnologista do IBGE/AP, Licenciado em Ciências Agrícola
pela UFRRJ e Especialista em Desenvolvimento Sustentável e Gestão
Ambiental - NAEA/UFPA.