O berço da palavra
Marcio Cotrim
Dragões da Independência
O primeiro Regimento de Cavalaria de Guardas (1º RCG), oficialmente
chamado de Dragões da Independência, teve origem na Guarda
de Honra criada em 1808 pelo príncipe regente D. João
ao chegar a então colônia, fugindo das tropas de Napoleão.
Após a independência do Brasil, em 1822, a unidade foi
transformada na Imperial Guarda de Honra, e assim permaneceu, fiel à
tradição e às pompas imperiais, usando fardamento
típico do século 19, em branco e vermelho - as cores da
antiga cavalaria portuguesa.
Foi ela que saudou D. Pedro na cena retratada no conhecido quadro de
Pedro Américo sobre o chamado Grito do Ipiranga.
Até aí, tudo bem como informação histórica.
Mas por que dragões? Porque essa era a designação
do soldado das unidades militares dos exércitos europeus desde
o século 17.
Atualmente, os Dragões da Independência são a tropa
de elite responsável pela guarda honorífica, a cavalo,
do Presidente da República. A garotada, ingênua, se esbalda
quando os vê passando, saltitantes e coloridos, no desfile anual
de 7 de setembro, embrião de um espírito patriótico
latente, mas que, no futuro, pode traduzir-se em ações
positivas de cidadania. Estamos tão necessitados disso.
FAROESTE - É o aportuguesamento da expressão
far west, em inglês, o distante oeste, ou o longínqüo
oeste, região dos EUA assim denominado quando a civilização
ainda não havia chegado aos territórios além do
meio-oeste do país. Neles, os criadores de gado viviam em condições
primitivas, em luta com índios e com os ladrões que assaltavam
rebanhos, diligências e trens. Depois de jornadas marcadas por
intensa crueldade, finalmente a nação norte-americana
chegou ao Pacífico e, por assim dizer, completou-se - se bem
que à custa de muito escalpelo, matança e ocupação
de terra alheia.
A crônica da saga do faroeste ganhou dimensão em Hollywood.
Filmes antológicos retrataram famosas lideranças indígenas
como Gerônimo e Touro Sentado, e oficiais como o intrépido
General Custer, além de bandidos lendários como Jesse
James e Billy-the-Kid, todos lembrados em filmes premiados como Shane
(Os Brutos Também Amam) e Stagecoach (No Tempo das Diligências).
Muito bangue-bangue que até hoje ressoa nos ouvidos dos espectadores
e exalta heróis e heroínas em melosos happy-ends.
BACALHAU - A palavra vem do latim baccalaureu, bacalhau
para os povos de língua portuguesa, codfish para os ingleses,
baccalà para os italianos, bacalao para os espanhóis.
A história desse peixe da família dos gadídeos
é milenar. Presente nos mares frios do Hemisfério Norte,
está incorporado à cultura culinária brasileira,
oferecido no cardápio de todos os bons restaurantes. Os portugueses
o descobriram na época das grandes navegações.
Precisavam de um produto não-perecível que, quando salgado,
mantivesse características gustativas e suportasse as longas
viagens que levavam meses de travessia pelo Atlântico.
Rico em nutrientes, durante muitos anos foi comercializado a preço
acessível às camadas mais populares. Prato comum nas mesas
brasileiras, é tradição em dias festivos. Devido
a seu consumo excessivo, atualmente se encontra em vias de extinção,
uma frustração para os paladares, até porque é
alimento de baixíssimo teor de gordura e alta concentração
de proteínas. Pelo fato de sua origem portuguesa, tornou-se símbolo
do Vasco da Gama, clube ligado à colônia lusa no Rio de
Janeiro.
A escritora e acadêmica Nélida Piñon assim se refere
ao bacalhau: "Sempre esqueço que é um peixe que singrou
outrora os mares até cair nas malhas e ganância dos pescadores.
Presente raro dos deuses, levado à mesa, é entregue à
sanha de nossa gula."
O leitor Eugênio Pacelli Civuca Costa, de Patos de Minas (MG),
solicita o significado da palavra piracema. Em tupi quer dizer saída
dos peixes para a desova, quando eles sobem às cabeceiras dos
rios para se reproduzirem. Todos os anos, de outubro a março,
o espetáculo se repete na região do Pantanal, nos estados
de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os peixes, nadando contra a correnteza,
vencem obstáculos naturais como corredeiras e cachoeiras, no
intuito de perpetuar suas espécies.
Por isso mesmo, a pesca é proibida nessa época, o chamado
defeso da piracema. A piracema é um edificante momento da natureza,
lição de vida para nós, seres humanos, tão
preocupados com valores efêmeros, menores, superficiais.