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Guerrilha
do Araguaia: Roteiro da derrota
Fonte: Correio Braziliense
Link: www.correioweb.com.br/
Sob tortura, guerrilheiros do PCdoB confessaram detalhes do grupo armado
e os nomes de alguns integrantes
Os depoimentos existentes nos arquivos secretos da Guerrilha do Araguaia
formam um roteiro completo do desmantelamento do Partido Comunista do
Brasil (PCdoB) na região do conflito armado. Torturados por integrantes
das Forças Armadas, todos os militantes presos forneceram informações
aos militares, conforme Correio revelou ontem, com exclusividade. Na edição
de hoje, o jornal apresenta o segundo depoimento do atual presidente do
PT, José Genoino, prestado em janeiro de 1973. O primeiro documento
sobre ele, de junho de 1972, foi publicado ontem. Leitura das declarações
de dois outros guerrilheiros, Dower Cavalcanti e Danilo Carneiro, mostra
mais revelações dos militantes conseguidas sob tortura pelos
militares. Os documentos publicados pelo Correio fazem parte de arquivos
dados como inexistentes pelo Exército. Deveriam ter sido destruídos
antes de o país retornar à democracia, mas um militar interessado
em preservar a história os guardou por quase três décadas.
Leia até a página 4 mais detalhes sobre um dos mais sangrentos
episódios da história do Brasil.
No movimento estudantil
Um dos poucos documentos sobre a Guerrilha do Araguaia preservados pelo
Estado está no Superior Tribunal Militar (STM). Trata-se do segundo
depoimento prestado pelo atual presidente do PT, José Genoino,
durante processo sofrido depois de preso no dia 18 de abril de 1972. As
declarações foram dadas no dia 8 de janeiro de 1973, em
Brasília, e anexadas ao processo.
Ao contrário da maioria dos depoimentos de guerrilheiros presos
obtidos pelo Correio, as quatro páginas datilografadas guardadas
pelo STM revelam os nomes dos autores do interrogatório. O documento
tem a assinatura do major Irineu de Farias, ''encarregado do termo'',
e do terceiro-sargento Armando Honório da Silva, escrivão.
Genoino começa falando sobre como envolveu-se com o movimento estudantil
na Universidade Federal do Ceará (UFC), a partir de 1967.
Estudou Filosofia e Direito antes de ter prisão decretada com amparo
no Ato Institucional nº 5 (AI-5). Conta também que presidiu
o diretório acadêmico de Filosofia e manteve contatos com
outros ativistas estudantis no estado. Fez referência ao presidente
do Diretório Central dos Estudantes (DCE), João de Paula,
que ainda hoje vive em Fortaleza.
O atual presidente do PT ingressou no PCdoB depois que tomou conhecimento
da organização e da linha do partido por intermédio
de Pedro Albuquerque, também estudante de Direito e sobrevivente
da guerrilha, conforme o Correio noticiou ontem. Revelou também
que participava do comitê universitário do PCdoB, junto com
João de Paula, Albuquerque e Bergson Gurjão Farias, militante
morto no início da guerrilha.
Em julho de 1968, segundo o depoimento, Genoino esteve em São Paulo
com o atual ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e Luiz Travassos,
lideranças nacionais do movimento estudantil. Nesta época,
Genoino já era presidente do DCE da UFC. Quando tentava voltar
ao Ceará, foi preso na rodoviária por carregar documentos
da então clandestina União Nacional dos Estudantes (UNE).
Ficou dez dias detido na delegacia da Polícia Federal. Solto, retornou
a Fortaleza.
No Congresso da UNE em Ibiúna (SP), em 12 de outubro de 1968, Genoino
foi preso junto com cerca de trinta outros estudantes cearenses, além
das centenas de representantes de outros estados. Na ocasião, também
foram detidos João de Paula, Bergson Gurjão e Pedro Albuquerque.
Genoino mais uma vez foi solto e, com prisão decretada no Ceará,
resolveu mudar-se para São Paulo, onde tentaria continuar os estudos.
Na capital paulista, procurou Helenira Rezende, diretora da UNE, morta
nos combates no Araguaia.
Em São Paulo, conheceu Sueli (Yomiko Kanayama) e Rioco Kayano,
com quem se casaria no final da década depois de cumprir cinco
anos de prisão pelo processo no STM. Rioco foi presa quando tentava
se incorporar à guerrilha e Sueli morreu durante a guerrilha.
Os primeiros contatos sobre a preparação da luta armada
no Sul do Pará foram feitos em São Paulo com um militante
de codinome ''Antônio''. Conduzido de olhos vendados a um ''aparelho''
do PCdoB, Genoino foi perguntado se tinha interesse em ''executar tarefas
relacionadas com o trabalho de campo''.
O próximo passo foi tomar um ônibus para Anápolis
(GO). Tinha recebido duzentos cruzeiros para comprar passagens e objetos
de uso pessoal. ''Antônio'' o aguardava num ''ponto'' próximo
à rodoviária.
Na ocasião, foi apresentado a ''Zé Fogoió'', codinome
de José Humberto Bronca, mecânico de aviões que morreria
na guerrilha.
Genoino viajou com Zé Fogoió para a região da Gameleira,
no Pará, onde passou a viver com Oswaldo Orlando da Costa, o ''Oswaldão'',
o mais famoso dos guerrilheiros. Logo que chegou, foi informado por ''Oswaldão''
de que na região estava sendo formado um grupo para ''treinamento
de guerrilha'', que mais tarde se transformaria em ''guerra popular''.
Durante o interrogatório Genoino também disse que ainda
em 1970 chegaram à Gameleira os militantes Glênio de Sá,
''Amaury'' (Paulo Roberto Pereira Marques) e ''Flávio'' (Ciro Flávio
Salazar e Oliveira). Os dois últimos foram mortos na Guerrilha.
Glênio sobreviveu, mas morreu num acidente de carro em 1990. Todos
os nomes entre parênteses nessa reportagem foram colocados para
identificar os guerrilheiros que tiveram apenas seus codinomes revelados
por Genoino.
Os treinamentos na mata consistiam em caminhadas, tiro, corrida e trabalho
político junto aos moradores da região. Em 1971, chegaram
outros: Sueli, ''Valéria'', ''Aparício'' (Idalísio
Aranha Filho) e ''Raul'' (Antônio Teodoro de Castro). Com a chegada
de outro militante, ''Zé Ferreira'' (Antônio Guilherme Ribeiro
Ribas), constituiu-se o destacamento ''B''.
Genoino usava o codinome ''Geraldo'' e assumiu o comando de um dos três
grupos, constituído também por ''Amaury'', Glênio,
Sueli, ''Manoel'' (José Maurílio Patrício), ''Tuca''
(Luzia Augusta Garlippe) e ''Peri'' (Pedro Alexandrino de Oliveira). No
depoimento, o atual presidente do PT afirma também que soube da
formação de outros destacamentos, mas ressaltou que não
tinha conhecimento de suas ''organizações''.
Treinamento de emboscadas
Os grupos estavam subordinados ao comandante ''Oswaldão'', segundo
Genoino. Cada um dos guerrilheiros geralmente recebia revólver
e espingarda, vinte e cinco cartuchos de espingarda e cinqüenta bala
de revólver. As instruções de emboscada, marcha,
acampamento, fustigamento e sobrevivência na selva também
eram ministradas por ''Oswaldão''. Na ausência do comandante,
Genoino assumia a função, ''inclusive promovia reuniões
em que eram lidos e discutidos os documentos enviados pelo partido''.
Os militantes dedicavam-se ao plantio de roças e somente os integrantes
do destacamento conheciam a localização dos depósitos
de armamentos e equipamentos. Genoino ia regularmente a Xambioá,
em Goiás, (hoje no Tocantins) pra comprar sal, açúcar,
salgados, pilhas de lanternas, balas de revólver e pólvora.
No depoimento, Genoino diz ainda que o destacamento era visitado por ''Joaquim''
(Ângelo Arroyo), João Amazonas e Maurício Grabois,
os três dirigentes nacionais do PCdoB.
Em 1971 ''Amaury'' montou uma farmácia em Santa Cruz (PA) para
fazer trabalho político junto à população.
Para isso, vendia remédios ''a preço razoável''.
Também observava o comportamento das pessoas para tentar identificar
algum agente das forças da repressão.
Por intermédio de ''Oswaldão'', Genoino conheceu outro destacamento
da região de Esperancinha (PA). Lá também militavam
''Vitor'' (José Toledo de Oliveira), Bergson Gurjão, ''Ary''
(Arildo Valadão), ''Áurea'' (Áurea Pereira Valadão,
mulher de Arildo) e ''Lúcia''. Em abril de 1972 o atual presidente
do PT foi preso depois de tentar avisar esse destacamento de que o Exército
havia chegado à região, conforme mostrado na edição
de ontem do Correio.
Por conta desse processo, Genoino acabou condenado a cinco anos de prisão
por integrar partido clandestino, o PCdoB. Não houve sentença
relacionada ao Araguaia.
Eumano Silva
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Matinta-perêra
Mulher velha que percorre distâncias à noite. Se afasta
se alguém disser que lhe dará um pedaço de rolo de
fumo. De manha ela vai buscar.
Cuíra
Diz-se de inquieto, ansioso,impaciente. Daquele que não agüenta
a espera de alguma coisa que vai acontecer
Titica
Cipó muito usado para a fabricação de móveis.
Chegou à beira da extinção.
Perau
Lugar perigoso do rio. Parte mais funda, onde o rio "não
dá pé".
Timbó
Um tipo de veneno usado para matar peixes. Bate-se a planta na água,
e o veneno se espalha. sem contrôle, mata.
Catinga de mulata
Catinga é cheiro ruim, mas "Catinga de mulata"é
cheiro bom, tanto que virou nome de perfume nos idos dos anos cinquenta
Remanso
Ponto onde o rio se alarga, a terra forma uma reentrância e
as águas ficam mais calmas
Bubuia
Aquelas minúsculas bolhas de espuma que se formam na corrente do
rio. Viajar de bubuia é ser levado pelas águas. "De
bubuia, título de canção popular.
Piracema
Época em que cardumes de peixes sobem os rios para a desova
Pedra do rio
Diz a lenda que que são as lágrimas de uma índia
que chorava a perda do amado. É onde está a íagem
de São José, na frente de Macapá.
Macapá
Vem de Macapaba, ou "estância das bacabas".
Bacaba
Fruto de uma palmeira, a bacabeira. O fruto produz um vinho grosso parecido
com o o açai.
Curumim
Menino na linguagem dos índios, expressão adotada pelos
brancos em alguns lugares.
Jurupary
O demônio da floresta tem os olhos de fogo, e quem o vê, de
frente, não volta para contar a história.
Yara
É a mãe d'água. Habita os rios, encanta com a suavidade
da voz, e leva pessoas para o castelo onde mora, no fundo do rio.
Pitiú
Cheiro forte de peixe, boto, cobra, jacaré e
outros animais.
Ilharga
Perto ou em volta de alguma coisa
Jacaré Açu
Jacaré grande.
Jacaré Tinga
Jacaré pequeno
Panema
Pessoa sem sorte, azarada. Rio em peixe.
Sumano
Simplificação da expressão"ei seu mano",que
é usada por quem passa pelo meio do rio para saudar quem se encontra
nas margens
Caruana
Espíritos do bem que habitam as águas e protegem as plantas
os homens e os animais.
Inhaca
Cheiro forte de maresia, de axilas de homem, de peixe ou de mulher
Tucuju
Nação indígena que habitava a margem esquerda do
rio Amazonas, no local onde hoje está localizada a cidade de Macapá.
Montaria
Identifica tanto o cavalo como a canoa pequena, de remo.
Porrudo
Grande, enorme, muito forte ou muito gordo
Boiúna.
Cobra grande, capaz de engolir uma canoa.(Lenda)
Massaranduba
Madeira de lei, pessoa grosseira, mal educada.
Acapu
Madeira preta, gente grossa mal educada. |
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