Cientistas
dizem que a função do
rio é levar sedimentos para o mar
Roberta Jansen
A função primordial do Rio Amazonas na natureza é
erodir os Andes. Mais precisamente, corroer as montanhas peruanas da cordilheira,
onde nasce, e levar seus sedimentos ao longo de cinco mil quilômetros
para dentro do Atlântico. A conclusão é de cientistas
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que se dedicam ao
estudo de imagens do rio produzidas por
satélite.
Segundo
os cientistas, a erosão ocorre há pelo menos cinco milhões
de anos e deve continuar acontecendo nos próximos cinco milhões.
A cada mês, o Amazonas lança no oceano cem milhões
de toneladas de sedimentos retirados dos Andes, volume equivalente a um
Pão de Açúcar e meio.
Para contar
essa história, os especialistas do Inpe criaram o projeto Amazing
Amazon, que tem o objetivo de misturar arte e ciência para a divulgação
de estudos. A partir das imagens de satélite da Bacia Amazônica,
cientistas e artistas gráficos criam verdadeiras telas abstratas
para apresentar a evolução do rio e de seus afluentes.
"Nosso
objetivo era estudar a ecologia do planeta, ou seja, entender como ocorre
o processo evolutivo da Terra, como as montanhas crescem, como se dá
a erosão, como os rios se instalam" explica o geólogo
Paulo Roberto Martini, que coordena o projeto ao lado do artista gráfico
José Wagner Garcia.
Águas
do rio visíveis no mar a 140 quilômetros da costa
Ao analisar
as imagens do Amazonas chama atenção a imensa mancha de
dispersão formada pelas águas do rio ao entrar no oceano.
Os sinais são visíveis a até 140 quilômetros
da costa brasileira. A identificação é possível
porque as águas do Amazonas são turvas, indicando que se
trata de um rio cuja função primordial é carregar
sedimentos.
Analisando
imagens colhidas ao longo dos últimos dez anos os especialistas
concluíram que o movimento de erosão é fundamental
para o equilíbrio e a evolução natural do planeta
e não significa, necessariamente, que os Andes estejam desaparecendo.
"O que
dá para inferir é que enquanto os Andes continuarem crescendo,
o Rio Amazonas existirá ? afirma Martini.
Entenda
a técnica
A associação
entre ciência e arte é relativamente recente. No Brasil,
a técnica só é usada pelo Inpe. O objetivo, garantem
os cientistas, não é meramente estético. A idéia
é buscar novas formas de visualização de imagens
geradas por satélites, mais atraentes e de mais fácil compreensão.
"A arte
é capaz de desenvolver novas linguagens, das quais a ciência
não dispõe. E a ciência impõe um rigor à
informação que a arte não tem", explica Paulo
Roberto Martini, um dos coordenadores do projeto Amazing Amazon.
Os especialistas
do Inpe trabalham com imagens geradas pelo satélite americano Landsat.
Os satélites operam com câmeras sensíveis a várias
faixas do espectro, inclusive as que o olho humano não vê,
emitindo sinais.
Os artistas transformam esses sinais em cores para que a leitura das informações
seja mais simples. A técnica é usada também pela
Nasa.
As imagens
do Amazing Amazon foram expostas no Museu de Arte Moderna de São
Paulo e poderão ir para outros países.
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